sexta-feira, outubro 06, 2006

Um dia daqueles

“... pé canhoto na bola pra Fernandão, Tinga de cabeça no poOOOSTE, sobro pra Sóbis atiro e GGgoolll... gGOOOOOOOOOOOOL... É DEMAAAIS... É DEMAAAAAIS.. O Inter liquida o São Paulo, o Inter rasga a camisa do São Paulo e Pisa nela... O inter humilha Campeão do Mundo...” Este certamente foi um dia daqueles.

Um dia daqueles para o sê-lo tem que marcar nossas vidas, nos induzindo a rir sozinho, apenas pela sua lembrança; tem que nos remeter a apreciar pequenos detalhes, muitas vezes imperceptíveis – pelo menos no momento em que acontece – e, principalmente, têm que nos passar aquela vontade de voltar no tempo, revivendo tudo o que aconteceu, sem mudar um detalhe sequer.

Dia destes, começou em uma quente tarde de verão, aqui em casa. Os raios solares adentravam pela janela estrategicamente entreaberta, para anão causar reflexo na televisão, que rodava o DVD do Eric Clapton. Tomávamos sorvete de R$ 1,99. Eu e o Luciano. No dia anterior, tinha sido seu padrinho de casamento no civil, mas, no momento preferíamos não tocar no assunto, soltando apenas comentários superficiais sobre o futuro da dupla Gre-Nal, ao invés de transparecer nosso nervosismo, que antecedia o matrimônio. Quando o Clatpon iniciou serenamente o solo de Wonderful Tonight, em sua guitarra alaranjada, dei uma coçada na cabeça e não resisti.

- De hoje não passa negão.
- To bem tranqüilo, até – enganava-se.

Só não dei um trago nele – e, conseqüentemente tomei – porque havia prometido pra minha cunhada que não faria. Pelo Luciano, teríamos começado cedo.

Conforme combinado antes de seguir para a Igreja, fomos à casa de minha noiva. Encontro-a, linda em seu vestido azul, maquiagem feita, cabelo arrumado, e... Muito nervosa. Ao encontrar minha sogra, fico surpreso. Trajava um vestido de tom avermelhado, forte, denso, de destaque, que caiu muito bem, por sinal, entretanto, jamais imaginaria vê-la vestida desta forma. Ali, tive a certeza que seria um dia daqueles.

Na igreja, o clima tenso dos familiares mais próximos era bem semelhante a angustia da torcida colorada nos minutos finais entre Inter e São Paulo no Gigante. A diferença era que desta vez não estava de mãos atadas. Além de padrinho, assumi o papel de mestre de cerimônias, acertando horários de entrada, músicas e coisaetal. Não estava tão carregado, mais.

Nervosismo que, voltaria minutos mais tarde. Na entrada dos Padrinhos, a música solicitada, não rodou. Eu e a nega ali. Esperando. Foram os piores 90 segundos do dia. Dezenas de pessoas olhando para nós com as caras “Mas por quê que eles não entram, hein?”. Constrangedor. Usei a minha costumeira tática de olhar para os pés, ou fixar um ponto no nada.

Foi uma cerimônia bonita. Apesar do calor. Na saída, eu e meu sogro invertemos as posições e saímos atrás da noiva – só os mais chatos perceberam.

A FESTA

Tive a grande honra de conduzir o veículo que levou os noivos até o Salão de Festas – quer dizer, teria... Se tivesse habilitação – então, deixei a bronca com a nega. A janta foi servida, e, assim como minha sogra, não consegui comer nada. Detalhe: Ela não bebe.

Lá pela quarta ceva já me sentia à vontade para passar o sapato do Lulu, pedindo grana. O máximo que consegui foi uma de vinte, e uma camisinha de chocolate – valor simbólico, ao menos. No percurso, uma singularidade.

- Meu amigo jornalista! Como vai a Tribuna, aquele nosso jornal comunista... ???, alegremente questionava um tio emprestado, de mais idade, da nega.
Na verdade, ele confundiu a Tribuna do Povo, do pilantra Reginaldo, com algum jornal comunista da sua época. Não tive coragem de desmentir e digo até hoje que vai indo numa boa.

Por motivos óbvios, naquela noite, o Luciano estava eufórico.

-Tu é meu parceiro – e enchia meu copo de ceva, por várias vezes.

Eu, como padrinho, retribuía a homenagem e o servia também. Menos de duas da manhã, já estávamos para lá do aconselhável. Dançava alegremente com a nega, não querendo que a noite terminasse, enlevado com a motivação do Tio Paulinho, disparado o mais sorridente de todos. Em meio a uma música que não me recordo, percebo a aproximação de desconhecidos.

- Fábio, tão te chamando ali.

O pessoal criou um “queijinho” em uma das mesas.

- Sobe. Sobe. Sobe.

Fui no embalo. Apesar da dificuldade pra subir, consegui me equilibrar bem. Com estilo até, ensaiando alguns passos sobre a mesa, agradando, ao menos, a minha sogra, que na entrada do Salão, me fitava sorridente. Terminada a canção, meus olhos alcoolizados, procuravam um local adequado para descida, como um cachorro que se prepara para um salto.

- Não pula. Não pula – pedia, a recém-casada.

Pulei. E não cai. Senti-me tão seguro que faria um quatro se fosse preciso. Creio que passaria por são, se não fosse um inoportuno pedido de uma colega da noiva, para que eu anotasse um número de telefone celular. Por azar, - não lembro porque – tinha que gravar em um cel que não era o meu.

-É 99...

Errei. Putz. Vamos de novo, pensei.

- 99...

O cel não cooperou.

- Bahhh. O Fábio já ta bêbado – caçoava a diretora do Vila-Lobos.

Não passei pelo segundo teste.

Na volta pra casa, lembro de pouca coisa. Mirei uma mancha escura, - provavelmente de mofo – que se destacava num muro, atrás do carro e a segui. Em linha reta. Cheguei no veículo e ninguém percebeu meu estado. Sabia disfarçar.
No dia seguinte, o Luciano acordou podre do estômago. Eu até não. Ia passar batido, se não fosse a lembrança da sogra.

- Ontem o Fábio veio pro carro tortinho – brincava, defendendo a ressaca do Luciano.
A minha tática de olhar para o muro não funcionou. Depois entendi.

É que se tratava de um dia daqueles.

Fabinho

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Sacanagem com o Lulu. hehehe
Chega de trago!
Abraço

1:40 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Eaí negão!?
Cara, muito bom mesmo.
Parabéns pelo texto

Grande abraço!
E sucesso pra tí!!!!!!!!!!!

1:48 PM  
Blogger Leandro Luz disse...

Grande Fabio...mandou bem, cara...acho q sao as aulas da Beeatriz Marocco, huhauahhuahahuha

Abraço

4:56 PM  

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