Experiência Recompensada
Esta matéria eu fiz para a Revista Experiência, da Famecos, semestre passado. No impresso ela teve de ser reduzida. Aqui é reproduzida na íntegra.
O editorialista é figura mítica dentro do jornal. Espécie de patrimônio da empresa. De punhos talhados e escrita apurada, domina a língua portuguesa como poucos na redação. Para tanto, normalmente é alçado ao cargo com idade já avançada e muitos anos de casa. Precisa ser de total confiança da direção. Afinal, a opinião do jornal é transmitida nas linhas de seu texto. Talvez essa abnegação literária seja outro indicativo da necessidade de ele penar alguns anos nas editorias do jornal antes de assumir o posto. Aquele ideal romântico de jornalismo já não corre nas veias e esboçar uma idéia, por vezes contrária às suas, em troca de uma confortável remuneração nem é cogitada como traição aos remotos valores de recém-formado, e sim, uma conseqüência natural do labor bem desempenhado. Para reconhecer um editorialista dentro de uma redação de jornal, basta mirar as cabeças de fios mais desbotados e ralos entre os computadores.
Com mais de 36 anos de profissão, duas Copas do Mundo no currículo e passagem por veículos tradicionais do Estado e do país como Veja, Jornal do Brasil e Correio do Povo, Nilson Souza, editor de Opinião de Zero Hora, é editorialista do jornal há 13 anos. As sobrancelhas hirsutas e o cabelo rareado e branco revelam de cara os 57 anos de vida. Em outra profissão ele já estaria aposentado ou preparando-se para isso. Mas o jornalismo caminha em terrenos mais sinuosos e transversais, e como um bom vinho, o profissional encontra-se amadurecido a ponto de expressar a opinião de um jornal somente depois de muitos anos ou décadas de carreira. Os motivos, Nilson explica:
- É necessária uma bagagem cultural muito grande para comentar sobre os mais diversos assuntos. Além de conhecer e se identificar com o ideário da empresa – argumenta.
Com gestos comedidos, comentando a sua função como se estivesse em uma sessão mediúnica, forçando as pálpebras com a mão direita, ele se esforça para remontar os primeiros anos de faculdade. Já no quarto semestre de curso, é contratado pela Caldas Junior, onde passa a trabalhar no Correio do Povo. Nessa época, submeter-se ao ideal de uma empresa em detrimento de suas crenças nem passava pela cabeça do estudante.
- Como todo jovem, jamais me imaginava nessa função. Tinha aquela idéia de jornalismo anárquico, onde todos comandassem ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, a gente nota que concorda com 99% daquilo que o jornal prega – acrescenta seguro.
Amir Domingues, 78 anos, editorialista do Correio do Povo, atende ao telefone. As frases impacientes e lacônicas resumem rapidamente os predicados necessários para exercer seu trabalho. “É preciso uma longa experiência e muita disciplina intelectual”. São 49 anos de Caldas Junior e 17 como editor de Opinião. Ele reconhece que é procurado pelos jornalistas menos experientes para distribuir conselhos e discorrer sobre questões históricas, mas não credita o fato ao seu posto.
- Eles me procuram como os jovens procuram aos mais velhos em qualquer profissão.
Companheiro de Amir na função de editorialista do Correio, Manoel Braga Gastal não chegou ao posto que ocupa como a maioria de seus colegas. Beirando os 90 anos, o jornalista que há 17 foi contratado pela Caldas Junior admite que conhece poucos companheiros de veículo. Pelo simples fato de não comparecer à redação.
- Desde que entrei no Correio eles fazem a deferência de buscar os textos que faço em minha casa - uma simpática morada no bairro Espírito Santo, em Porto Alegre.
Empunhando o gravador, segundo ele, por sentir-se mais confortável para falar, Braga Gastal conduz seu discurso com as palavras sobrepostas de forma metódica e conclusiva. Deixando transparecer a personalidade carregada de linguagem jurídica. Advogado jubilado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), exerceu a profissão por 50 anos. A retórica jurídica foi determinante no seu sucesso como jornalista de opinião, tanto na extinta coluna “Dois dedos de prosa” da rádio Farroupilha, quanto na atual função. Mas o que aponta como grande atributo de um bom editorialista é a percepção aguçada, o olho clínico para escolher a notícia certa a ser abordada.
- Nem sempre a manchete do jornal deve ser escolhida para o editorial. Às vezes uma matéria escondida no cantinho da página pode ser a escolha certa – ensina.
Guilherme
O editorialista é figura mítica dentro do jornal. Espécie de patrimônio da empresa. De punhos talhados e escrita apurada, domina a língua portuguesa como poucos na redação. Para tanto, normalmente é alçado ao cargo com idade já avançada e muitos anos de casa. Precisa ser de total confiança da direção. Afinal, a opinião do jornal é transmitida nas linhas de seu texto. Talvez essa abnegação literária seja outro indicativo da necessidade de ele penar alguns anos nas editorias do jornal antes de assumir o posto. Aquele ideal romântico de jornalismo já não corre nas veias e esboçar uma idéia, por vezes contrária às suas, em troca de uma confortável remuneração nem é cogitada como traição aos remotos valores de recém-formado, e sim, uma conseqüência natural do labor bem desempenhado. Para reconhecer um editorialista dentro de uma redação de jornal, basta mirar as cabeças de fios mais desbotados e ralos entre os computadores.
Com mais de 36 anos de profissão, duas Copas do Mundo no currículo e passagem por veículos tradicionais do Estado e do país como Veja, Jornal do Brasil e Correio do Povo, Nilson Souza, editor de Opinião de Zero Hora, é editorialista do jornal há 13 anos. As sobrancelhas hirsutas e o cabelo rareado e branco revelam de cara os 57 anos de vida. Em outra profissão ele já estaria aposentado ou preparando-se para isso. Mas o jornalismo caminha em terrenos mais sinuosos e transversais, e como um bom vinho, o profissional encontra-se amadurecido a ponto de expressar a opinião de um jornal somente depois de muitos anos ou décadas de carreira. Os motivos, Nilson explica:
- É necessária uma bagagem cultural muito grande para comentar sobre os mais diversos assuntos. Além de conhecer e se identificar com o ideário da empresa – argumenta.
Com gestos comedidos, comentando a sua função como se estivesse em uma sessão mediúnica, forçando as pálpebras com a mão direita, ele se esforça para remontar os primeiros anos de faculdade. Já no quarto semestre de curso, é contratado pela Caldas Junior, onde passa a trabalhar no Correio do Povo. Nessa época, submeter-se ao ideal de uma empresa em detrimento de suas crenças nem passava pela cabeça do estudante.
- Como todo jovem, jamais me imaginava nessa função. Tinha aquela idéia de jornalismo anárquico, onde todos comandassem ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, a gente nota que concorda com 99% daquilo que o jornal prega – acrescenta seguro.
Amir Domingues, 78 anos, editorialista do Correio do Povo, atende ao telefone. As frases impacientes e lacônicas resumem rapidamente os predicados necessários para exercer seu trabalho. “É preciso uma longa experiência e muita disciplina intelectual”. São 49 anos de Caldas Junior e 17 como editor de Opinião. Ele reconhece que é procurado pelos jornalistas menos experientes para distribuir conselhos e discorrer sobre questões históricas, mas não credita o fato ao seu posto.
- Eles me procuram como os jovens procuram aos mais velhos em qualquer profissão.
Companheiro de Amir na função de editorialista do Correio, Manoel Braga Gastal não chegou ao posto que ocupa como a maioria de seus colegas. Beirando os 90 anos, o jornalista que há 17 foi contratado pela Caldas Junior admite que conhece poucos companheiros de veículo. Pelo simples fato de não comparecer à redação.
- Desde que entrei no Correio eles fazem a deferência de buscar os textos que faço em minha casa - uma simpática morada no bairro Espírito Santo, em Porto Alegre.
Empunhando o gravador, segundo ele, por sentir-se mais confortável para falar, Braga Gastal conduz seu discurso com as palavras sobrepostas de forma metódica e conclusiva. Deixando transparecer a personalidade carregada de linguagem jurídica. Advogado jubilado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), exerceu a profissão por 50 anos. A retórica jurídica foi determinante no seu sucesso como jornalista de opinião, tanto na extinta coluna “Dois dedos de prosa” da rádio Farroupilha, quanto na atual função. Mas o que aponta como grande atributo de um bom editorialista é a percepção aguçada, o olho clínico para escolher a notícia certa a ser abordada.
- Nem sempre a manchete do jornal deve ser escolhida para o editorial. Às vezes uma matéria escondida no cantinho da página pode ser a escolha certa – ensina.
Guilherme
1 Comentários:
Bem...
Falando como leitor do blog,
(os ultimos 7, 8 posts foram teus)...
Ta bala.....
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