quarta-feira, julho 26, 2006

Vô Juca

Lembro bem de seu bigode ralo e acinzentado. Lembro de sua fala plena e segura, mesmo que ofegante. Lembro também das pernas arqueadas, cambotas, e que ganhavam a calçada mansamente até chegar à parada de ônibus. Lembro, é claro, da forma como me recebia, seu carinho contido - resquício de uma educação machista e opressora -, mas também como transbordavam seus olhos, marejados de cumplicidade com os meus. Às vezes, na maioria delas, bastava fitar-nos. As palavras eram suprimidas com nosso silencioso entendimento. Lembro de quando ele lembrava de um causo seu. As frases jamais se atropelavam, sobrepostas simetricamente, numa precisão parnasiana. Feito poeta, mas sem o estudo e as arestas deste. Queria ser ele quando crescesse. Quanta pretensão...

Lembro, lembro e lembro...Talvez não devesse. A lembrança é sempre cruel. Chega quando a convivência foi abreviada, quando houve alguma ruptura na rotina. E ela me visita todos os dias. Abraça-me de mansinho e me leva pra passear junto do Vô Juca. Com sua boina torta, seus passos descompassados e nossos intermináveis segredos.

Guilherme

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

ta te superando cada vez mais, deve publicar mais artigos sobre o vo juca....

1:59 AM  
Anonymous Anônimo disse...

gui adorei ler teus textos ,são emocionantes,parece que estou vendo tu e o vô sentados em frente a tv numa tarde quente com a caneca dele cheia de gelo e pouco suco.beijos dinda

10:38 PM  

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