quarta-feira, julho 05, 2006

Quem tem medo do Emepê?!





Não raramente alguns professores de jornalismo da PUC encerram suas aulas mais cedo. Boa oportunidade para exercitar a solidão e andar perdido pelo prédio da Comunicação. Numa dessas noites, num outono com vento vigoroso e denso, um fato inusitado aconteceu no saguão da Famecos. Como de costume, desci as escadas num andar preguiçoso. Caminhava distraído quando fui surpreendido por um canto desafinado e infantil: “Quem tem medo do Emepê?! Emepê?! Emepê?! Quem tem medo do Emepê?! Emepê?! Emepê?!”. Cerca de seis corpulentos estudantes de Direito tentam intimidar alguns dos alunos que organizaram uma chapa de oposição para enfrentá-los na eleição do Diretório Central dos Estudantes. A imagem é deprimente. Um deles, aparentemente o líder, com os olhos saltados, cabelo castanho-claro e a coluna curvada, fruto de sua altura, exibe um sorriso débil no rosto numa tentativa frustrada de ser irônico. Outro, com o cabelo besuntado, olhos profundos e a barba mal aparada, com pinta de Bad Boy,- provavelmente um descerebrado - anuncia: “Vamos entrar no Centro Acadêmico da Famecos! Afinal, ele é dos estudantes”.

Senti que havia chegado a hora. O olhar resignado de alguns colegas que jogavam sinuca ou permaneciam atrás do balcão de atendimento do CA era um aviso, um prenúncio. Postei-me diante do grupo inimigo e disparei: “Sim, ele é dos estudantes. Mas vocês não são estudantes. Vocês são a escória que envergonha a classe acadêmica. Vocês são o resultado de anos de negligência da sociedade, dos governos, dos responsáveis pelo ensino. Filhos da bestialidade e da ganância (Vocês sabem o que significa ganância?). Vocês são a ignorância personificada. Vocês são a resposta decorada em frente aos televisores, a reprodução dos discursos hipócritas de seus pais. Aqueles mesmos que votaram no Collor, no FHC e votarão no Alckmin, porque para vocês o Lula fede a pobreza e miséria, é feio, baixinho e orelhudo, e o representante maior da pátria ‘deve ser garboso, passar uma boa imagem do nosso país’. Vocês são o halo de inteligência que assola a juventude. Vocês são o discurso vazio, a piada preconceituosa e talvez nem tenham condições de quantificar o quão ridículo conseguem ser. Vocês são jovens idiotas, serão adultos idiotas e morrerão, arrependidos e amargurados, velhos idiotas”.

Terminei. Suava frio. Todas aquelas reflexões silenciosas martirizavam-me. Talvez por não ter pronunciado uma só palavra. Não sei também qual seria o resultado daquele discurso. Nunca saberei. Ouço um burburinho. Os gigantes, os Golias deixam a Famecos entoando novamente o hino de provocação ao Ministério Público e aos estudantes. O saguão está vazio. No bar descansam os saborosos salgados que serão consumidos amanhã. Um aluno solitário arrisca alguns acordes num violão, sentado na mureta que cerca o canteiro. Deixo o prédio. Encaminho-me vagarosamente para a biblioteca. Mergulhar nos livros sempre é a melhor saída para todos os males. Principalmente para emergir das profundezas da ignorância.


Guilherme

1 Comentários:

Blogger Guilherme Lessa Bica disse...

Boa...

So q tu nao coloco o titulo no lugar do titulo,


E tem que liberar os comentarios pros anonimos...

Fabio

2:36 PM  

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