sexta-feira, julho 14, 2006

"Brigada, Sinhô"

E a chuva deita seu choro fininho, sua inquietude constante que lateja na telha alaranjada de uma casa no centro de Guaíba. E a lua reflete o lamento arrastado de uma crioula que não aceita seu destino, seu desatino. Ela oferece o seio seco ao filho, o leite insosso e azedo. Ela oferece a pena, a dor, as rugas de seus trinta e três anos de penitências. Ela oferece os pés calejados, as mãos ressequidas e a alma lavrada de sofrimento. Ela carrega as imperfeições que os olhares alheios condenam. As moedas caem encharcadas de desprezo. As notas, amassadas, cheiram a humilhação. O sorriso fotográfico não engana nem a si mesma. "Brigada, sinhô", repete e repete feito papagaio. Faz da mão uma concha e conta a parca quantia arrecadada. Enrola a criança no cobertor andrajo e caminha no seu andar atrapalhado para a única refeição do dia.

Guilherme

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

so pra constar q eu li..

4:43 PM  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial