eu, ela, nós
"Ainda não mataram os melhores devaneios"
Jorge Du Peixe
Eu ensaio um movimento inesperado para ela e puxo o corpo magro e despido de roupas, pudores e frescuras para junto do meu; e começo o ritual diário e dionisíaco de veneração de cada poro daquela pele, de cada som emitido em meio à dança descompassada de nossos membros. Eu inspiro seu cheiro, um aroma doce e salgado ao mesmo tempo, um gosto liso e áspero que bebo com a sede infantil de amante. Eu aliso o cabelo escuro já rebelde, porque suado, porque exigido em sua elasticidade por minhas e suas mãos angustiadas. Eu grito um canto rouco e sublime com os olhos alertas e mirando as linhas miúdas que os fios de cabelo comprido desenham em sua nuca.
Ela condiciona minhas mãos aos lugares que mais lhe agradam e minhas mãos são cegas ao ponto de se deixarem levar, gulosas e satisfeitas, por entre eles. Ela ensina a velocidade adequada e anuncia, em respirações ofegantes, que o espaço entre nós precisa ser reduzido, tornado quase nulo, imperceptível. Ela é uma estátua móvel com o corpo iluminado por um sol que não avisto, nem procuro, mas percorro-a sábio da presença dele. Ela encarna nos lábios avermelhados por meus dentes e boca esse sol, encarna nos olhos acesos a luminosidade de astro, de estrela lúbrica.
Nós engendramos jogos circenses de bailarinos que improvisam coreografias amorosas, censuráveis em nossas próprias mentes moralistas: transgredimo-nos. Pulsamos como uma torrente de água que escorre ligeira, apressada por um monte opulento - como o corpo que toco - e deságua saciada num mar receptivo, um mar de abraços e carícias íntimas, generoso como o ventre dela. Nós escalamos os degraus do quarto, ela depois eu, eu depois ela, depois ambos enrolados como plantas parasitas, envenenando-nos um pouco mais a cada beijo, cada gemido, cada silêncio construído pela dor. Nós estagnamos nossos corpos, acompanhamos o sonho em suas terras e reproduzimos - agora em terreno mágico - os contornos de nossas venturas.
Guilherme
Jorge Du Peixe
Eu ensaio um movimento inesperado para ela e puxo o corpo magro e despido de roupas, pudores e frescuras para junto do meu; e começo o ritual diário e dionisíaco de veneração de cada poro daquela pele, de cada som emitido em meio à dança descompassada de nossos membros. Eu inspiro seu cheiro, um aroma doce e salgado ao mesmo tempo, um gosto liso e áspero que bebo com a sede infantil de amante. Eu aliso o cabelo escuro já rebelde, porque suado, porque exigido em sua elasticidade por minhas e suas mãos angustiadas. Eu grito um canto rouco e sublime com os olhos alertas e mirando as linhas miúdas que os fios de cabelo comprido desenham em sua nuca.
Ela condiciona minhas mãos aos lugares que mais lhe agradam e minhas mãos são cegas ao ponto de se deixarem levar, gulosas e satisfeitas, por entre eles. Ela ensina a velocidade adequada e anuncia, em respirações ofegantes, que o espaço entre nós precisa ser reduzido, tornado quase nulo, imperceptível. Ela é uma estátua móvel com o corpo iluminado por um sol que não avisto, nem procuro, mas percorro-a sábio da presença dele. Ela encarna nos lábios avermelhados por meus dentes e boca esse sol, encarna nos olhos acesos a luminosidade de astro, de estrela lúbrica.
Nós engendramos jogos circenses de bailarinos que improvisam coreografias amorosas, censuráveis em nossas próprias mentes moralistas: transgredimo-nos. Pulsamos como uma torrente de água que escorre ligeira, apressada por um monte opulento - como o corpo que toco - e deságua saciada num mar receptivo, um mar de abraços e carícias íntimas, generoso como o ventre dela. Nós escalamos os degraus do quarto, ela depois eu, eu depois ela, depois ambos enrolados como plantas parasitas, envenenando-nos um pouco mais a cada beijo, cada gemido, cada silêncio construído pela dor. Nós estagnamos nossos corpos, acompanhamos o sonho em suas terras e reproduzimos - agora em terreno mágico - os contornos de nossas venturas.
Guilherme
5 Comentários:
"cada silêncio construído pela dor..."
vsf
mto bom.
Cada gesto, cada palavra se torna único, que transborda numa paixão cheia de volúpia.
Coisa boa ;)
Adorei esse texto, podia escrever mais sobre essa temática.
Abraços Gui
Beijos!!
Por pressão do Fabio, vou comentar aqui: eu amei esse texto! =D
Eu inspiro seu cheiro, um aroma doce e salgado ao mesmo tempo, um gosto liso e áspero que bebo com a sede infantil de amante......
Profundo isso!!!!!!!
Gostei, Inté
Nada como metáforas para dizer aquilo que o pudor textual não deixa.
Parabéns. Muito bom.
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