domingo, janeiro 27, 2008

Cenário urbano

As casas não podem mais falar. As janelas já fecharam. As casas agora apenas observam, as lâmpadas que brilham lá do meio das salas funcionam como olhos. As casas à noite emudecem.

A rua é um rio de água preta. Nem a luz esforçada dos postes consegue clareá-lo. Parece um destes movimentos inconsistentes que tentam despoluir vales e riachos encardidos com o nosso desleixo. A rua é um vale negro de água rasa.

Os postes são torres abandonadas pelo castelo. Andam em fila, ordeiros, silenciosos, amarrados por linhas intermináveis. Quando os motoristas se distraem, os postes avançam rumo às esquinas. Como se naquele cruzamento pudessem avistar um monte encantado. Os postes são órfãos da realeza.

A calçada é um tapete vulgar. Desses surrados que pertencem aos animais domésticos. É banhada apenas pela chuva, enxugada pelo vento e amaciada pelas palmilhas menos abastadas. A calçada é a mais humilde das vias.

Guilherme

1 Comentários:

Blogger Leandro Luz disse...

ae guilherme, matando a pau

so o cusao do fabio q nao posta nada

abraços

6:46 PM  

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