quarta-feira, janeiro 02, 2008

1º Post de 2008


* Como as cores do ano são: vermelho e branco; nada melhor do que um post sobre o Internacional.



Desabafo com o Claudiomiro


Em agosto do ano passado, teve aqui em Guaíba, uma grande festa de aniversário de um ano da conquista da Libertadores. Muita alegria, muita cerveja, e quando vejo, para ao meu lado nada mais, nada menos, que... Claudiomiro. O Claudiomiro que ouvia nos discos do Inter, da época que o colorado ganhava todas. Ali, do meu lado. Tinha que falar. Azar que tava alcoolizado (eu).

Olhei pro relógio. 23h55. Sorvi o restante da ceva servida a instantes, esvaziei o copo e puxei um assunto.

- Porra Claudiomiro, tu é fudido! – enalteci. Ele franziu o cenho, transparecendo uma discreta surpresa, resultado de uma tarimba curtida por anos, acostumado a lidar seguidamente com elogios da massa vermelha.

- To muito feliz de estar aqui contigo – continuei – e vo te conta o motivo. Hoje é um dia de festa; to bebendo todas e acabei me lembrando do longínquo ano de noventa e quatro. Recordo como se fosse ontem, o cheiro desgostoso do travesseiro. O inconfundível fedor de baba seca atormentava meu nariz ranhento e as mandíbulas trêmulas não seguravam o choro infantil, após a derrota para o Ceará. Imagina eu, piá, resvalando em soluço, lamuriando entediado feito bezerro desmamado. O desespero espalhava-se a ponto de ser percebido pelos meus familiares. Tava cagando pra tudo, Claudiô. Porra; podia ser um Corinthians, um Palmeiras, mas, Ceará? Nada contra, mas, um clube de tão despido brilho, não podia atropelar o meu colorado. Não podia. Não acha?

- Foi a pior noite dos meus dez anos. As inquietações seguiram pela madrugada e as três já segurava o choro. Repousava apenas a dor, um aperto no coração – na época, zero bala -, tendo a convicção que seria zoado pelos amigos. Que merda. Seria minha geração fadada a derrota? Nunca vou ver meu time ganhar nada? Eu pensava, Claudiomiro, só no vinil eu ouvia o Colorado ganhar. E Eles sempre ganham. Paus no cu. Peguei no sono pouco antes das cinco, e sonhei com a voz estridente do Haroldo de Souza, aos berros de “só falta um colorado, um golzinho só colorado”. No sonho o gol saiu. Para me deixar mais mau humorado no dia seguinte.

- Acordei perturbado. Vozes estremeciam a sala da casa em uma sinfonia sádica, ao som de tambores sincronizados aos gritos de cagão, cagão, cagão. Precisava de alucinógeno para sair daquele sanatório. Era o momento da admirável providência. Separo a capa rubra do vinil, coloco o disco no aparelho posicionando a agulha com a precisão de um GPS: “Atençãooo... Cobrada a falta, bola na área Figueroa entrou de cabeçaa, gooll.. gooooooolllllllllllllllllll, o capitãoooooo Eeeeliass Figueroaaa cumprimentouu Raul”. Sempre fazia isso. E dava certo. Foda-se que eles ganham tudo. Todos meus amigos são gremistas, e daí? Sou colorado: colorado do Falcão, do Figueroa e de ti, Claudiomiro. Minha geração não ganha nada? Azar. Temos que resistir. Nós, colorados da minha geração, Nós Somos a Resistência - assim eu pensava. Ouvia de novo o gol, e ia jogar botão.

- E hoje, tudo mudou. Sabe por que estamos aqui? Claro que sim, né Cláudiô. Somos campeões da América e Campeão do Mundo. Somos o melhor time do mundo. O nosso Time. Pouco antes deu tomar essas meia dúzia de cevas estava a te aplaudir, em Sessão solene, na Câmara de Guaíba. Assim como as dezenas de colorados da minha geração. Hoje eu estufo o peito e olho pros meus amigos e digo solenemente: EU VI MEU TIME SER CAMPEÃO DO MUNDO. E fico muito feliz em poder dizer isso a ti, que na fase não tão boa do nosso Inter, recorria ao vinil para alimentar a minha paixão incondicional pelo Colorado.

Olhei pro relógio novamente. 23h56. E o Claudiomiro continuava ao meu lado. Com sua camisa de flanela e jaqueta de couro, com um semblante sereno, provavelmente sabendo que eu desejava muito falar com ele, mas até o momento não lhe dirigia uma palavra sequer. Quando surgiu a oportunidade, iniciei da mesma maneira que imaginava.

- Porra Claudiomiro, tu é fudido! – contudo, mudando um pouco o tom do discurso – to meio alcoolizado e não vo consegui descrever a felicidade deste momento. Mas ficaria feliz com uma foto.

- Mas tu nem me viu jogar – ele brincou.

- Tu é do caralho... te ouvia todas as tardes quando era piá.

Ele deu um sorriso sincero e sem olhar pra foto atendeu ao meu pedido.

Agradeci e fui buscar outra ceva. Queria ter falado mais. Ao menos, fica a homenagem aqui no Blog.


Fabio

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