Uma noite no São Pedro
Ela parecia deslizar lentamente pelo céu, com uma leveza invejável a muitas pombas que, sabiamente, rodeavam o local. O crepúsculo tornava a sua descida mais encantadora. O vento que acolhia a entrada da noite é que definia seu rumo: ora, para próximo da Assembléia Legislativa, ora em direção ao Teatro São Pedro. E eu ali. Com os olhos perdidos, apenas vislumbrando a descida da folha, caída de uma árvore da Praça, há poucos instantes, até sua aterrissagem de forma sublime no solo frio, que servia de assento/cama para um mendigo. Sinceramente, não entendia minha comoção. Sabia que era um dia atípico, com os sentimentos a flor da pele. Mas, como estava na fila para assistir a apresentação de uma Orquestra de Flautas – da Escola Vila Lobos -, relevava serenamente a situação.
- E aí, será se o Inter passa da semifinal do Mundial? – ironicamente, questionou meu cunhado, aproveitando do recurso “futebol”, para criar um assunto, até que os portões do Teatro fossem abertos.
O comentário teve seu lado bom. Após uma resposta comedida, meus pensamentos voaram abruptamente à Terra do Sol Nascente, e, se não fosse à astúcia do meu sogro, veria a nossa fila se dissipar desordenadamente em direção a Porta Principal. O grito de “olha o furo, olha o furo”, entonado rispidamente, pelo sogro, foi ecoado por dezenas de pessoas, inibindo os convidados “espertinhos”, que acabaram esperando a nossa entrada. Em menos de 10 minutos, já desfrutava do conforto da poltrona de honra – segunda fileira, para convidados especiais – do São Pedro. De um lado, meu cunhado, do outro, minha noiva e à minha frente, a Secretária de Educação. Mas naquele momento, sentia-me sozinho. Maravilhado. A beleza dos instrumentos era deixar qualquer musicista com os olhos brilhando e com cócegas nos dedos, aguardando o momento do encontro com seu utensílio de trabalho. Contudo, não me continha aos violinos, que ali aguardavam seus manipuladores. Perdia-me com a perfeição do local. Paredes, andares, lustres, tudo parecia entrelaçado de forma harmoniosa, dando ao ambiente uma vibração fora do comum. Lembrava da minha infância, da primeira vez que fui ao circo. Com a mesma cara de bobo, minha cabeça girava em todos os sentidos, procurando algo novo. Algo que encontraria pouco tempo depois.
As cortinas abriram e, para mim, a apoteose. Crianças, adolescentes, professores, músicos e cantores; todos perfilados, recebendo um aplauso caloroso da platéia, que lotava as dependências do Teatro. Confesso que subiu uma adrenalina, muito semelhante à Entrada do Inter em campo. Uma emoção em ver alguns pequenos, com os olhinhos regalados, faceiros com os aplausos, tive que me segurar pra não soltar um “vocês são foda!”, como costumo fazer no Beira-rio, quando passa o projeto Criança Colorada. Antes mesmo de começarem as apresentações, já era obrigado a disfarçar “coçadas” no meu olho, para esconder as lágrimas que insistiam em incomodar minhas pálpebras. A maior parte da apresentação foi assim. Segurando o choro, transparecendo normalidade. Impressionado com o talento dos pequenos, da qualidade musical apresentada, do empenho dos professores e da beleza do projeto. Uma escola da comunidade. Uma escola que, para muitos da “classe média”, é considera de “Vila” – no sentido pejorativo -, mostrou a que veio, proporcionando um espetáculo jamais visto por mim, até então. A cada música que passava, transpirava...
O Mestre de Cerimônias - professor da escola – esnobava uma impostação de voz, abrilhantando ainda mais o Evento. Com um texto bem preparado e uma galhardia apurada em seus movimentos, demonstrava experiência na função, emocionando a todos os convidados, ao contar a história da orquestra, dando continuidade no Espetáculo. Para mim, o momento culminante foi o show da turminha de percussão mirim. A professora, com os cabelos parecidos com o do Ronaldinho Gaúcho, conseguia “tirar” ao máximo, o potencial dos baixinhos – uns, ficavam pouco acima do meu joelho – que já batucavam com um swing talentoso. No entanto, na música “Que país é este?”, ao ouvir um “entra pô”, vindo de um dos músicos, percebi que o vocalista estava meio perdido na história. Por sorte, a platéia estava como uma acompanhante de cabaré no final da madrugada: louca para ser conquistada. Bastou uma “puxada de palmas” e umas frases demagogas, para vir o aplauso em massa. Que beleza! Ainda nesta noite, teve a apresentação da reconhecida cantora gaúcha, “Sorrentino”... – Aaaveeeee MariiiiIIIiiaaaaa, MariiiiIIIiiaaaaa... – convidada especial. De peso.
Não queria que chegasse ao fim. Ao silenciar a última batida de palma, ainda estava paralisado na poltrona. Suado. Agora, entendendo o real motivo do nome do espetáculo: Uma canção é pra isso. Uma canção é mais do que fazer um sol, é ao mesmo tempo um relaxante e um estimulante; é algo que te deixa num estado fora de si, para cima, feliz, com vontade de seguir em frente. Uma canção é para abrir novos horizontes, dar oportunidades a quem precisa, uma canção é... uma canção é pra isso. Levanto, realizado. Porém, percebo que minha empolgação tinha tido um ponto negativo. Estava “voando”. Comento somente com a nega e sigo o trajeto de volta, pelos corredores do São Pedro, com os dois braços colados no corpo para não passar por nenhum tipo de constrangimento. O Fluxo de pessoas era grande.
- E aí, será se o Inter passa da semifinal do Mundial? – ironicamente, questionou meu cunhado, aproveitando do recurso “futebol”, para criar um assunto, até que os portões do Teatro fossem abertos.
O comentário teve seu lado bom. Após uma resposta comedida, meus pensamentos voaram abruptamente à Terra do Sol Nascente, e, se não fosse à astúcia do meu sogro, veria a nossa fila se dissipar desordenadamente em direção a Porta Principal. O grito de “olha o furo, olha o furo”, entonado rispidamente, pelo sogro, foi ecoado por dezenas de pessoas, inibindo os convidados “espertinhos”, que acabaram esperando a nossa entrada. Em menos de 10 minutos, já desfrutava do conforto da poltrona de honra – segunda fileira, para convidados especiais – do São Pedro. De um lado, meu cunhado, do outro, minha noiva e à minha frente, a Secretária de Educação. Mas naquele momento, sentia-me sozinho. Maravilhado. A beleza dos instrumentos era deixar qualquer musicista com os olhos brilhando e com cócegas nos dedos, aguardando o momento do encontro com seu utensílio de trabalho. Contudo, não me continha aos violinos, que ali aguardavam seus manipuladores. Perdia-me com a perfeição do local. Paredes, andares, lustres, tudo parecia entrelaçado de forma harmoniosa, dando ao ambiente uma vibração fora do comum. Lembrava da minha infância, da primeira vez que fui ao circo. Com a mesma cara de bobo, minha cabeça girava em todos os sentidos, procurando algo novo. Algo que encontraria pouco tempo depois.
As cortinas abriram e, para mim, a apoteose. Crianças, adolescentes, professores, músicos e cantores; todos perfilados, recebendo um aplauso caloroso da platéia, que lotava as dependências do Teatro. Confesso que subiu uma adrenalina, muito semelhante à Entrada do Inter em campo. Uma emoção em ver alguns pequenos, com os olhinhos regalados, faceiros com os aplausos, tive que me segurar pra não soltar um “vocês são foda!”, como costumo fazer no Beira-rio, quando passa o projeto Criança Colorada. Antes mesmo de começarem as apresentações, já era obrigado a disfarçar “coçadas” no meu olho, para esconder as lágrimas que insistiam em incomodar minhas pálpebras. A maior parte da apresentação foi assim. Segurando o choro, transparecendo normalidade. Impressionado com o talento dos pequenos, da qualidade musical apresentada, do empenho dos professores e da beleza do projeto. Uma escola da comunidade. Uma escola que, para muitos da “classe média”, é considera de “Vila” – no sentido pejorativo -, mostrou a que veio, proporcionando um espetáculo jamais visto por mim, até então. A cada música que passava, transpirava...
O Mestre de Cerimônias - professor da escola – esnobava uma impostação de voz, abrilhantando ainda mais o Evento. Com um texto bem preparado e uma galhardia apurada em seus movimentos, demonstrava experiência na função, emocionando a todos os convidados, ao contar a história da orquestra, dando continuidade no Espetáculo. Para mim, o momento culminante foi o show da turminha de percussão mirim. A professora, com os cabelos parecidos com o do Ronaldinho Gaúcho, conseguia “tirar” ao máximo, o potencial dos baixinhos – uns, ficavam pouco acima do meu joelho – que já batucavam com um swing talentoso. No entanto, na música “Que país é este?”, ao ouvir um “entra pô”, vindo de um dos músicos, percebi que o vocalista estava meio perdido na história. Por sorte, a platéia estava como uma acompanhante de cabaré no final da madrugada: louca para ser conquistada. Bastou uma “puxada de palmas” e umas frases demagogas, para vir o aplauso em massa. Que beleza! Ainda nesta noite, teve a apresentação da reconhecida cantora gaúcha, “Sorrentino”... – Aaaveeeee MariiiiIIIiiaaaaa, MariiiiIIIiiaaaaa... – convidada especial. De peso.
Não queria que chegasse ao fim. Ao silenciar a última batida de palma, ainda estava paralisado na poltrona. Suado. Agora, entendendo o real motivo do nome do espetáculo: Uma canção é pra isso. Uma canção é mais do que fazer um sol, é ao mesmo tempo um relaxante e um estimulante; é algo que te deixa num estado fora de si, para cima, feliz, com vontade de seguir em frente. Uma canção é para abrir novos horizontes, dar oportunidades a quem precisa, uma canção é... uma canção é pra isso. Levanto, realizado. Porém, percebo que minha empolgação tinha tido um ponto negativo. Estava “voando”. Comento somente com a nega e sigo o trajeto de volta, pelos corredores do São Pedro, com os dois braços colados no corpo para não passar por nenhum tipo de constrangimento. O Fluxo de pessoas era grande.
- Shiii... Têm gente que ta numa Asaaa... – condenava, minha sogra, calculando que fosse de um dos músicos que passava por nós.
Optei pelo silêncio. Após um risinho discreto para minha noiva, partimos em direção ao carro, com uma convicção. Esse foi o primeiro de muitos, que pretendemos assistir, mas, nas próximas, o Vila Lobos não me pegará desprevenido.
Fabinho
*(Foto/Arquivo Prefeitura Poa). A regência e idealização do projeto é da professora Cecília Rheingantz Silveira. Parabéns, Professora.
3 Comentários:
Tá bala... foda é a asa.
Vamos ver se sai o impresso.
Abraço
Guilherme
Nossa... parabéns!!!!
Brilhante seu blog...
Estarei sempre por aqui!
Sucesso sempre...
Bah meu, t puxou no tamanho do texto hein? Mas ficou bom, alias, tu geralmente escreve bons textos. Teu raciocínio descritivo é show. Mas dá uma editadinha da próxima vez para nao matar o véio, hahahaha.
Vamo Vamo Inteeeeeeeeer!!!
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