quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Manual de sobrevivência no verão subtropical

Abra os olhos vagarosamente. Distenda os músculos do rosto num movimento que exponha com veemência a campainha de sua garganta à luz da manhã, que entra sorrateira pelo quarto entre as frestas deixadas pela persiana descuidada. Estique os braços divergentes para pontos cardeais contrários e exclame um uhnnn gutural e relaxante. Afaste com paciência as cobertas, que provocaram aquele suador de porco durante a madrugada, como se elas representassem uma figura sensível e agradável. Caminhe até o banheiro calçando as solas dos pés por inteiro no chão sem o auxílio de chinelos, pantufas, alpargatas ou sandálias, para que a temperatura arrefecida do assoalho amenize o desconforto desta estação.

Atravesse o corredor com a lentidão medida antecipadamente, evitando que o suor se manifeste logo pela manhã, e encaminhe-se para a geladeira e o seu sopro polar. Retire a garrafa de água gelada e encha o maior copo de vidro à disposição no armário. Acrescente cinco sólidas pedras de gelo e beba num só gole. Experimente a mesma sensação de congelamento de quando se bebe uma porção de sorvete maior do que a capacidade de absorção do corpo, aquela que ascende do interior das narinas e escala o rosto até o limiar da testa, e que morre refrescando a cabeça, a essa altura já escorada com sofreguidão pelas mãos. Repita a operação outras três vezes - se possível, com a mesma disciplina da primeira.

Vista-se com o uniforme ou a roupa própria para o trabalho e encare o sol, a brisa quente e o calor abrasivo com a coragem e o vigor necessários.

Guilherme

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Boa guiga,

1:55 PM  

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