O Maior Psicólogo que Existiu
Colocamos dois posts nessa sexta-feira. Não deixem de conferir o texto do Guilherme
Conforme prometido, o texto que saiu no livro do Inter, a minha história campeã da América...
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Acordo com um barulho estridente em meus ouvidos. Eram 7h45 de 16 de agosto. Maldito celular. Lembro que foram menos de 3 horas de sono. Meus nervosos pensamentos passaram a noite vagando instintivamente em busca de um resultado positivo que, almejava presenciar na final do dia seguinte. O irritante som “nokia tune” selecionado em toque crescente, ecoava pelas paredes mofadas do meu quarto. Quem me ligaria a esta hora? Pensei no Carvalho. Em uma chamada eufórica, o Presidente estaria convocando os guerreiros alvirrubros para atropelar o tricolor paulista, na maior batalha vista no Gigante da Beira-rio. Mas não.
- Amoreco, o pai está mal. Está indo para o Hospital – contou-me entre soluços, minha noiva.
Não queria acreditar. Após um breve consolo, liguei para meu local de trabalho avisando que não poderia comparecer, dando as devidas explicações – certamente devem ter pensando que faltei por causa do jogo. Ao chegar na casa dela, tentei transmitir somente palavras positivas, mas, também muito abatido, não obtinha grande sucesso. Toda a programação pré-agendada pensando em concentração, bebida, tinha ido por água baixo. Não sentia vontade de sorver um gole de cerveja sequer. Rezava. Torcia muito pela recuperação do sogro, sem saber o que aconteceria nas próximas horas.
- Vai pro jogo, Amor. Eu vou ficar bem – disse.
Sentia-me orgulhoso. Ela sabia o quanto este jogo era importante para mim. Com o coração apertado, me despedi e voltei para casa, separar o manto sagrado, cada vez mais nervoso. Ora pela proximidade da grande final, ora por não ter mais notícias do sogro. Minha carona chegou em torno de 15h. Contei a situação para a esposa do meu ex-chefe, durante a viagem pra Poa, e fico mais calmo. Na capital, paramos pra pegar o seu marido que assumiu o carro, já muito entusiasmado. Atravessamos a Avenida Farrapos ao som de Festa no Apê.
- Fabinho, hoje é dia de festa pra gente! – comemorava meu ex-patrão, o Norberto.
Continha-me a um sucinto “É isso aí”. Não conseguia esquecer da situação de saúde que havia deixado para trás. Entramos cedo no estacionamento do Beira. Os caminhos enlameados nos levaram até uma vaga, um pouco longe do Estádio, próximo a Avenida Beira-rio. Desci do carro e recebi emprestada uma capa de chuva do Inter.
- Pega aí, piá – disse Norberto, já antevendo a chuva que chegaria nos minutos seguintes.
Vesti a capa e segui em direção as sociais – portão 24 -, já com o grupo de colorados, que juntos, acompanhamos toda a caminhada colorada na Libertadores. Os portões nem haviam sido abertos, mas as filas já se entrelaçavam pelo Gigante. Ficamos no final da fila da superior, que, sabe-se lá como, foi parar na Rampa de acesso ao Portão 24. A nossa fila, não achamos. Milhares de colorados, tentavam organizar de forma desordenada, dezenas de conglomerados que aumentavam rapidamente. Quando os brigadianos responsáveis pela revista, começaram a subir a rampa, foram veementemente aplaudidos pelos torcedores. Fato raro. As primeiras gotas de chuva caíram enquanto tramávamos uma estratégia para furar a fila que, nem ao menos sabíamos onde estava.
- É simples, quando o portão abrir, todo mundo se vira. Ao invés de ficarmos como os últimos da fila da superior, seremos um dos primeiros da nossa rampa – conjecturou um dos colorados.
Funcionou. Antes das seis e meia, já estava sentado, aguardando o início do jogo. Tempo que usei para fazer um lanche, ficar ligado no radinho e, aos poucos, vislumbrar o Estádio ser pintado de vermelho. Começava a me emocionar. Entretanto, a cada vez que ouvia “Serviço de Utilidade Pública” ecoados pelas caixas de som, imaginava, apavorado que viria um recado para mim. Não veio.
Minha festa começou pouco antes da partida. Mais de 50 mil colorados cantavam alegremente “Vamô, Vamô, Inter..” a espera da entra do time. Um cântico fortalecedor, de guerra, de paixão, de luta, de apoio incondicional ao colorado. Pela primeira vez no dia, deixei cair algumas lágrimas. O Hino Rio-grandense, cantado pouco antes, foi emocionante. Mas nada comparado à força do canto dessa torcida que tinha a certeza da Conquista da América. Com os olhos avermelhados, pensavam que todos ali tinham problemas, enfrentando suas mais variadas barreiras, mas mesmo assim estavam ali. Felizes. Com o Inter. Felicidade Plena.
Durante as próximas horas, senti-me leve. Coisa que nem um psicólogo conseguiria com inúmeras consultas. É a Força do Inter. Força que precisou ser mostrada dentro de campo, para garantir um emocionante 2 a 2 e a Conquista da América. O melhor jogo da minha vida. A maior festa que o colorado me proporcionou. Mesmo com a situação adversa, sem beber absolutamente nada, a torcida me enlevava a momentos de glórias inesquecíveis que levarei comigo, e, certamente, contarei para meus netos.
Obrigado, Inter. Obrigado, Beira-rio, o Maior Psicólogo que Existiu.
Fabinho
Conforme prometido, o texto que saiu no livro do Inter, a minha história campeã da América...
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Acordo com um barulho estridente em meus ouvidos. Eram 7h45 de 16 de agosto. Maldito celular. Lembro que foram menos de 3 horas de sono. Meus nervosos pensamentos passaram a noite vagando instintivamente em busca de um resultado positivo que, almejava presenciar na final do dia seguinte. O irritante som “nokia tune” selecionado em toque crescente, ecoava pelas paredes mofadas do meu quarto. Quem me ligaria a esta hora? Pensei no Carvalho. Em uma chamada eufórica, o Presidente estaria convocando os guerreiros alvirrubros para atropelar o tricolor paulista, na maior batalha vista no Gigante da Beira-rio. Mas não.
- Amoreco, o pai está mal. Está indo para o Hospital – contou-me entre soluços, minha noiva.
Não queria acreditar. Após um breve consolo, liguei para meu local de trabalho avisando que não poderia comparecer, dando as devidas explicações – certamente devem ter pensando que faltei por causa do jogo. Ao chegar na casa dela, tentei transmitir somente palavras positivas, mas, também muito abatido, não obtinha grande sucesso. Toda a programação pré-agendada pensando em concentração, bebida, tinha ido por água baixo. Não sentia vontade de sorver um gole de cerveja sequer. Rezava. Torcia muito pela recuperação do sogro, sem saber o que aconteceria nas próximas horas.
- Vai pro jogo, Amor. Eu vou ficar bem – disse.
Sentia-me orgulhoso. Ela sabia o quanto este jogo era importante para mim. Com o coração apertado, me despedi e voltei para casa, separar o manto sagrado, cada vez mais nervoso. Ora pela proximidade da grande final, ora por não ter mais notícias do sogro. Minha carona chegou em torno de 15h. Contei a situação para a esposa do meu ex-chefe, durante a viagem pra Poa, e fico mais calmo. Na capital, paramos pra pegar o seu marido que assumiu o carro, já muito entusiasmado. Atravessamos a Avenida Farrapos ao som de Festa no Apê.
- Fabinho, hoje é dia de festa pra gente! – comemorava meu ex-patrão, o Norberto.
Continha-me a um sucinto “É isso aí”. Não conseguia esquecer da situação de saúde que havia deixado para trás. Entramos cedo no estacionamento do Beira. Os caminhos enlameados nos levaram até uma vaga, um pouco longe do Estádio, próximo a Avenida Beira-rio. Desci do carro e recebi emprestada uma capa de chuva do Inter.
- Pega aí, piá – disse Norberto, já antevendo a chuva que chegaria nos minutos seguintes.
Vesti a capa e segui em direção as sociais – portão 24 -, já com o grupo de colorados, que juntos, acompanhamos toda a caminhada colorada na Libertadores. Os portões nem haviam sido abertos, mas as filas já se entrelaçavam pelo Gigante. Ficamos no final da fila da superior, que, sabe-se lá como, foi parar na Rampa de acesso ao Portão 24. A nossa fila, não achamos. Milhares de colorados, tentavam organizar de forma desordenada, dezenas de conglomerados que aumentavam rapidamente. Quando os brigadianos responsáveis pela revista, começaram a subir a rampa, foram veementemente aplaudidos pelos torcedores. Fato raro. As primeiras gotas de chuva caíram enquanto tramávamos uma estratégia para furar a fila que, nem ao menos sabíamos onde estava.
- É simples, quando o portão abrir, todo mundo se vira. Ao invés de ficarmos como os últimos da fila da superior, seremos um dos primeiros da nossa rampa – conjecturou um dos colorados.
Funcionou. Antes das seis e meia, já estava sentado, aguardando o início do jogo. Tempo que usei para fazer um lanche, ficar ligado no radinho e, aos poucos, vislumbrar o Estádio ser pintado de vermelho. Começava a me emocionar. Entretanto, a cada vez que ouvia “Serviço de Utilidade Pública” ecoados pelas caixas de som, imaginava, apavorado que viria um recado para mim. Não veio.
Minha festa começou pouco antes da partida. Mais de 50 mil colorados cantavam alegremente “Vamô, Vamô, Inter..” a espera da entra do time. Um cântico fortalecedor, de guerra, de paixão, de luta, de apoio incondicional ao colorado. Pela primeira vez no dia, deixei cair algumas lágrimas. O Hino Rio-grandense, cantado pouco antes, foi emocionante. Mas nada comparado à força do canto dessa torcida que tinha a certeza da Conquista da América. Com os olhos avermelhados, pensavam que todos ali tinham problemas, enfrentando suas mais variadas barreiras, mas mesmo assim estavam ali. Felizes. Com o Inter. Felicidade Plena.
Durante as próximas horas, senti-me leve. Coisa que nem um psicólogo conseguiria com inúmeras consultas. É a Força do Inter. Força que precisou ser mostrada dentro de campo, para garantir um emocionante 2 a 2 e a Conquista da América. O melhor jogo da minha vida. A maior festa que o colorado me proporcionou. Mesmo com a situação adversa, sem beber absolutamente nada, a torcida me enlevava a momentos de glórias inesquecíveis que levarei comigo, e, certamente, contarei para meus netos.
Obrigado, Inter. Obrigado, Beira-rio, o Maior Psicólogo que Existiu.
Fabinho
2 Comentários:
Que legal o blog de vcs... parabens!!!beijo
Cara, parabéns, muito o bom o texto, cara, muito mesmo. Que situação foda essa, hein?
Abração!!!
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