segunda-feira, abril 16, 2007

O Pasto de Pablo *

Pablo escuta um hip-hop afú enquanto alonga os músculos volumosos dos braços para concluir mais uma tarde de academia. Equilibra o supino com cuidado, mas se permite escutar o tilintar dos quatro halteres de vinte e cinco quilos cada dependurados no ferro seguro pelas suas mãos. Pablo bufa e faz algumas séries de dez levantadas. Mira o espelho, ajeita a camiseta de manga cavada molhada nas áreas que margeiam o sovaco e deixa o local.

Agora Pablo acelera a Toyota do pai que pegou emprestada com a condição de que se dedique mais ao curso de engenharia mecânica para o qual foi matriculado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pensa em Anabela e uma careta de insatisfação lhe atravessa o rosto e ele não entende como ela pôde dispensá-lo sem uma justificativa aceitável. Pablo lembra das palavras de Anabela que dizia eu acho que não quero mais ficar contigo; tu é bonito e forte, tem grana e um pau relativamente bem-dotado, mas o Roger também tem tudo isso e ainda por cima não me deixa tantas marcas no rosto, o que fica bem mais fácil de esconder com uma maquiagem eficiente. Pablo balança a cabeça negativamente e avista um cachorro na calçada que faz poses de fisiculturista e abana para ele, repetindo o movimento de trocar uma lâmpada com a pata dianteira direita. Pablo tenta responder com um oi, mas é surpreendido com um latido grave e cordial saído de sua boca.

Pablo esfrega os olhos quando pára na sinaleira e começa a ficar assustado e acha que aquela visão pode ser fruto dos anabolizantes e das injeções para cavalo que conseguiu com o Mano, que começou a trabalhar de balconista numa farmácia do centro, mês passado. Depois daquilo, algumas brigas ocorreram em festas, alguns braços de adversários fraturados, supercílios recortados e explicações pacientemente decoradas e escarradas na sala abafada do juizado criminal do fórum da cidade.

Pablo sente-se aliviado ao contornar a esquina da rua onde mora e avançar com a certeza de que em poucos segundos estará sob a proteção dos muros de sua casa. Mas metros antes ele avista um terreno baldio onde alguns cavalos se alimentam da grama recém banhada pela chuva e, sem compreender-se, estaciona em sua beirada. A boca de Pablo saliva e ele sente as mãos tornarem-se rijas e cerrarem-se. Abre a porta do carro com dificuldade e atravessa o arame farpado e nem nota o pequeno corte talhado no ombro esquerdo. Aos poucos o corpo começa a se curvar e os pés sofrem o mesmo processo que as mãos, até tornarem-se todos patas por inteiro. Então o rosto másculo de Pablo que, acrescido do corte de cabelo raspado a gilete, garantia agradáveis comparações ao de Vin Diesel foi tomando contornos eqüinos, e os dentes brancos e fortes ganharam ainda mais força e tamanho.

Pablo virou um cavalo. Com crina e rabo compridos, trotar elegante e um relinchar de garanhão. Voltou a olhar o capim úmido e se ainda fosse humano choraria com emoção ao primeiro toque de sua boca de beiços salientes e peludos na seiva doce de seu mais novo pasto.

Guilherme

* Texto inspirado na Teoria do Pasto, elaborada por Pedro Schenkel.

4 Comentários:

Blogger Guilherme Lessa Bica disse...

hauhauahuahauaa


teoria do pedro schenkel eh pra mata o boneco...


mto bom..

12:09 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Dae!! A teoria agora esta no papel... E por sinal muito bem escrita...

Muito Bom Gui!!!

Abração!!
Pedro!!!

4:39 PM  
Anonymous Anônimo disse...

huauhauhauhauhahuahuauha... muito bom!
"fulano q... ele olha essa pasto aí ao lado e fica c conçando pra não come!"
by guiga

abraço...
Pitt

2:18 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Gostei mto Gui, boa teoria do Peter hehe.Faz sentindo e o final até q me surpreendeu hehe.Bjos

12:54 AM  

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