sexta-feira, dezembro 29, 2006

Eles sobrevivem ao tempo (e ao mercado) IIII

As mãos que pariam rebentos eternizadas em livro

Elas trouxeram muitas vidas ao mundo. Com ferramentas precárias, se comparadas com o aparato tecnológico do qual dispõem os médicos nos dias de hoje, as parteiras faziam de uma tarefa árdua o exercício de uma vocação. Anteciparam os obstetras com a inclinação natural que a mulher carrega para a maternidade. E mesmo que sobrevivam hoje apenas em cidades interioranas ou em remotos rincões, elas já estão eternizadas.

O livro As Parteiras, de Elma Sant’Ana, registra a história de centenas de brasileiras que dedicaram suas vidas a trazer ao mundo rebentos chorosos recém desgarrados do ventre materno. E das linhas da autora recende o universo de estradas de chão, de imensas distâncias sendo percorridas pelas profissionais do parto, em carroças alquebradas ou mesmo no lombo de cavalos, para cumprir sua missão: “As parteiras ajudaram mães aflitas a ganhar seus filhos em locais distantes de qualquer recurso da Medicina. A cena se repetiu por décadas: mulheres, munidas de sua maleta, tesoura e muitas vezes levando o rosário e a imagem de Nossa Senhora do Bom Parto (...) Fizeram jus ao ditado “mais conhecida que parteira de campanha”, disserta Elma.

Mesmo caindo no ostracismo da falta de estrutura e perdendo cada vez mais espaço para a segurança dos médicos, elas continuam na ativa, principalmente no Norte e Nordeste do País. Pesquisa realizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no ano de 2004 revelou que 918 parteiras atuam na região que encabeça o relevo nacional. E contribuem para a ocorrência de 88% de partos normais por lá. Reduzindo a taxa de 15% de cesarianas, considerada como aceitável pela entidade internacional, para apenas 12%.

Guilherme

sábado, dezembro 23, 2006

Eles sobrevivem ao tempo (e ao mercado) III

Driblando o abismo da extinção

O mesmo Senac que capacitou o barbeiro Lorival na década de 60 continua lançando milhares de profissionais no mercado de trabalho todos os anos. Entre faculdades, cursos livres e cursos técnicos. Esses últimos ilustram a transformação sofrida nos quatro decênios que passaram. Aqueles de cunho artesanal, como a barbearia, foram suprimidos por aulas de informática, turismo, comércio exterior, enfermagem, entre outros.

Para os trabalhadores não letrados, resta a criatividade para perenizar a atividade. Os engraxates do centro de Porto Alegre são exemplos disso. Há 12 anos uma associação foi criada para defender os direitos daqueles que sobrevivem da digna servilidade de lustrar o sapato alheio. Os 47 associados já conseguiram vitórias robustas desde então. Cada um labuta hoje em dia com o ponto definido – espalhados pela Praça da Alfândega e as avenidas Otávio Rocha e Borges de Medeiros –, sob uma armação azul que comporta a cadeira para o cliente, um espaço para reservar o material de trabalho e um teto providencial para os dias mais cinzas e chuvosos.

Paulo Lopes, 63 anos, é o secretário da entidade. Há 18 anos vivendo da graxa, ele comemora as conquistas da categoria. Até ser determinado o local onde cada engraxate deveria atuar, Santos conta que vagava pela Praça da Alfândega em busca de clientes. Foi numa dessas buscas que arranjou um entrevero dos brabos.

Logo que terminou um serviço, enquanto organizava seu material, viu o cliente ser assaltado sob seus olhos. Esperou alguns dias até reencontrar o autor do roubo. Ao reparar que ele caminhava despreocupado pela praça, Santos sacou o taco de madeira escondido entre seus pertences e desferiu algumas pancadas. Incomodou-se com a namorada do agredido, mas limpou a consciência.

- Dei três cacetadas no lombo dele. Mas ele não aprendeu. Voltou para assaltar no dia seguinte e pechou com um policial – relata concentrado o negro corpulento de cavanhaque, que não aparenta já ter ultrapassado os 60 anos. E acrescenta: “O malandro levou um tiro no joelho e ficou aleijado. Vagou por uns tempos por aqui e desapareceu de vez”.

Essa história retrata a obsessão de Santos com a satisfação do cliente. Seja advogado, médico, bancário ou de ocupação mais humilde. “Credibilidade. Isso é tudo no meu emprego. É preciso respeitar para ser respeitado”, afiança. Mas o senhor consegue sobreviver com a renda que tira aqui? Ele sorri com o canto dos lábios, gesticula com as mãos para o interlocutor se aproximar e fala como se segredasse algo:

- Esse é o melhor serviço da minha vida. Garanto uma grana boa e ainda posso bater papo enquanto trabalho. É o melhor serviço do mundo – sussurra o ex-caminhoneiro que hoje lucra R$ 50 diários na arte de fazer brilhar calçados.

Guilherme

Eles sobrevivem ao tempo (e ao mercado) II

O viaduto do tempo

O viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, pode ser apreciado como uma ode às décadas passadas. Numa rápida caminhada sob seus desbotados pilares chega-se a essa conclusão. Afora as pichações de frases como “O imperialismo é um tigre de papel” ou “Viva a heróica resistência iraquiana”, que reportam o passante para os dias atuais, o local é habitado, sobretudo, por relojoeiros grisalhos, comerciantes de lojas de vinis tão antigos quanto a mercadoria com a qual trabalham e, volta e meia, por um mendigo cocho de dorso nu que cantarola sucessos antigos de Roberto Carlos, com a voz arranhada pelo álcool, atrás de algumas moedas.

Mas um rosto jovem destoa dos demais. Seu dono é Jader Pontes, 36 anos. Proprietário de uma sapataria de nome curioso e pouco criativo: Sapataria. Em busca de uma renda maior, aprendeu o ofício com o sogro há oito anos. De cabelos ainda pretos, com raros fios brancos nas têmporas, longilíneo e de fala pausada e baixa, Pontes enumera os predicados indispensáveis para um bom sapateiro. “É necessária muita paciência. Preciso parar e pensar bastante antes de começar o trabalho”.

Entre lixadeiras, máquina de costura, facas, colas - todos materiais utilizados no trabalho - e centenas de pares de calçado que abarrotam o pequeno espaço comercial de sua posse, Pontes garante que a única característica que não compõe seu dia-a-dia é a rotina.

- O serviço nunca é igual. É só olhar os pés das pessoas. Cada um carrega algo diferente. Não é como trocar um pneu de carro – diz o sapateiro, debruçado no balcão de atendimento e acompanhado por uma plaqueta branca com letras negras pregada na parede ao seu lado, de mensagem clara e direta: serviço com 50% de sinal.

Guilherme

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Lembranças...

De uns 10, 12 anos para cá, não faço a contagem regressiva para o Natal desde outubro. O feriado do bom velhinho passou a ser apenas mais uma data comemorativa. Na minha infância, tinha outra visão de tudo.

Desde cedo tive problemas com a timidez. Não gostava nem um pouco da idéia de ter que ir ao Cantinho da Criança todos os dias. Fizesse chuva ou sol, meu destino estava selado. A Kombi do tio Antônio me largaria para mais um dia entre estranhos. Por estar no auge dos meus três, quatro anos, não recordo o nome de nenhuma ‘tia’. Pra falar a verdade, não lembro de ter amigos. Acho que não era o único.

Lá, tudo era previamente calculado. Hora de brincar, hora de lanchar, hora de tomar banho. Ao aproximar-se a hora da recreação era o ápice da criançada. Os maiores usavam da força para conseguir os brinquedos que queriam. Infelizmente, eu era da turma dos oprimidos. O meu corpo sempre magro, não ajudava nem um pouco em situações de conflito. Preferia caminhar pelo pátio, naquela época, imaginava-o imenso.

Em um dos meus passeios, conquistei minha primeira amiga. Foi uma vitória. Toda vez que sentia uma dúvida, ia consultá-la. Falava de meus medos, minhas histórias, e ela sempre atenta, ouvia tudo, sorridente.

Depois de alguns dias, criei uma intimidade maior e começava a ficar feliz. A vontade. Minha felicidade estampada no rosto foi o suficiente para a coordenação da escolinha chamar meus pais.

- Ultimamente, o Fábio tem conversado com uma árvore.


Fabinho


Feliz Natal a todos!

Não tem Sentido...

Este post vai para o primeiro amigo que consegui na faculdade de Jornalismo. Nas aulas de entrevista e reportagem, trocavamos comentários exparsos sobre o futuro do colorado. Eu, um torcedor fervoroso. Ele, um baita cornetero. Dos chatos. Mesmo assim nos acertamos.

Com o tempo, fizemos outras cadeiras juntos, trabalhamos na 359, e, no entanto, hoje só nos conversamos através do blog - creio que ele seja meu unico leitor assíduo. Enfim. É uma das pessoas mais aplicadas e esforçadas que conheço. Tenho plena convicção de um grande futuro no jornalismo...

Ontem, fez 26 anos, deixando um post no seu blog, lamentando o aumento da idade...
Meio Sem sentido.. (o proposito do blog, né)

Parabens, negao.


Fabio

segunda-feira, dezembro 18, 2006

CAMPEÃO DO MUNDO



Não tem palavras... Ainda não tive tempo e nem coragem de fazer um texto sobre a conquista.... Virá nos próximos dias...

Fabinho


P.S - E os cinco a zero pro Barça, Ézio?

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O Maior Psicólogo que Existiu

Colocamos dois posts nessa sexta-feira. Não deixem de conferir o texto do Guilherme

Conforme prometido, o texto que saiu no livro do Inter, a minha história campeã da América...
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Acordo com um barulho estridente em meus ouvidos. Eram 7h45 de 16 de agosto. Maldito celular. Lembro que foram menos de 3 horas de sono. Meus nervosos pensamentos passaram a noite vagando instintivamente em busca de um resultado positivo que, almejava presenciar na final do dia seguinte. O irritante som “nokia tune” selecionado em toque crescente, ecoava pelas paredes mofadas do meu quarto. Quem me ligaria a esta hora? Pensei no Carvalho. Em uma chamada eufórica, o Presidente estaria convocando os guerreiros alvirrubros para atropelar o tricolor paulista, na maior batalha vista no Gigante da Beira-rio. Mas não.

- Amoreco, o pai está mal. Está indo para o Hospital – contou-me entre soluços, minha noiva.

Não queria acreditar. Após um breve consolo, liguei para meu local de trabalho avisando que não poderia comparecer, dando as devidas explicações – certamente devem ter pensando que faltei por causa do jogo. Ao chegar na casa dela, tentei transmitir somente palavras positivas, mas, também muito abatido, não obtinha grande sucesso. Toda a programação pré-agendada pensando em concentração, bebida, tinha ido por água baixo. Não sentia vontade de sorver um gole de cerveja sequer. Rezava. Torcia muito pela recuperação do sogro, sem saber o que aconteceria nas próximas horas.

- Vai pro jogo, Amor. Eu vou ficar bem – disse.

Sentia-me orgulhoso. Ela sabia o quanto este jogo era importante para mim. Com o coração apertado, me despedi e voltei para casa, separar o manto sagrado, cada vez mais nervoso. Ora pela proximidade da grande final, ora por não ter mais notícias do sogro. Minha carona chegou em torno de 15h. Contei a situação para a esposa do meu ex-chefe, durante a viagem pra Poa, e fico mais calmo. Na capital, paramos pra pegar o seu marido que assumiu o carro, já muito entusiasmado. Atravessamos a Avenida Farrapos ao som de Festa no Apê.

- Fabinho, hoje é dia de festa pra gente! – comemorava meu ex-patrão, o Norberto.

Continha-me a um sucinto “É isso aí”. Não conseguia esquecer da situação de saúde que havia deixado para trás. Entramos cedo no estacionamento do Beira. Os caminhos enlameados nos levaram até uma vaga, um pouco longe do Estádio, próximo a Avenida Beira-rio. Desci do carro e recebi emprestada uma capa de chuva do Inter.

- Pega aí, piá – disse Norberto, já antevendo a chuva que chegaria nos minutos seguintes.

Vesti a capa e segui em direção as sociais – portão 24 -, já com o grupo de colorados, que juntos, acompanhamos toda a caminhada colorada na Libertadores. Os portões nem haviam sido abertos, mas as filas já se entrelaçavam pelo Gigante. Ficamos no final da fila da superior, que, sabe-se lá como, foi parar na Rampa de acesso ao Portão 24. A nossa fila, não achamos. Milhares de colorados, tentavam organizar de forma desordenada, dezenas de conglomerados que aumentavam rapidamente. Quando os brigadianos responsáveis pela revista, começaram a subir a rampa, foram veementemente aplaudidos pelos torcedores. Fato raro. As primeiras gotas de chuva caíram enquanto tramávamos uma estratégia para furar a fila que, nem ao menos sabíamos onde estava.

- É simples, quando o portão abrir, todo mundo se vira. Ao invés de ficarmos como os últimos da fila da superior, seremos um dos primeiros da nossa rampa – conjecturou um dos colorados.

Funcionou. Antes das seis e meia, já estava sentado, aguardando o início do jogo. Tempo que usei para fazer um lanche, ficar ligado no radinho e, aos poucos, vislumbrar o Estádio ser pintado de vermelho. Começava a me emocionar. Entretanto, a cada vez que ouvia “Serviço de Utilidade Pública” ecoados pelas caixas de som, imaginava, apavorado que viria um recado para mim. Não veio.

Minha festa começou pouco antes da partida. Mais de 50 mil colorados cantavam alegremente “Vamô, Vamô, Inter..” a espera da entra do time. Um cântico fortalecedor, de guerra, de paixão, de luta, de apoio incondicional ao colorado. Pela primeira vez no dia, deixei cair algumas lágrimas. O Hino Rio-grandense, cantado pouco antes, foi emocionante. Mas nada comparado à força do canto dessa torcida que tinha a certeza da Conquista da América. Com os olhos avermelhados, pensavam que todos ali tinham problemas, enfrentando suas mais variadas barreiras, mas mesmo assim estavam ali. Felizes. Com o Inter. Felicidade Plena.

Durante as próximas horas, senti-me leve. Coisa que nem um psicólogo conseguiria com inúmeras consultas. É a Força do Inter. Força que precisou ser mostrada dentro de campo, para garantir um emocionante 2 a 2 e a Conquista da América. O melhor jogo da minha vida. A maior festa que o colorado me proporcionou. Mesmo com a situação adversa, sem beber absolutamente nada, a torcida me enlevava a momentos de glórias inesquecíveis que levarei comigo, e, certamente, contarei para meus netos.

Obrigado, Inter. Obrigado, Beira-rio, o Maior Psicólogo que Existiu.

Fabinho

Eles sobrevivem ao tempo (e ao mercado)

A matéria publicada abaixo foi feita para o estágio de aprofundamento de texto da Famecos. Por ser mais elaborada e de maior fôlego, vou postá-la em quatro partes; mesmo correndo o risco de perder o sentido. Já que é muito chato ler textos longos no monitor.

Eles são sobreviventes. Num mercado de trabalho cada vez mais dependente de tecnologia apurada, informática e robotização, contribuem para engrossar a parcela que fica a margem das máquinas modernas. Conjugam em suas rotinas verbos revestidos de passado e nostalgia: coser uma roupa, assear a barba, pregar um botão, engraxar um calçado, parir um rebento. E, apesar de não ocuparem espaço nos grandes centros comerciais, ainda resistem ao processo natural de extinção pelo qual passam profissões de tempos em tempos. Em cidades de menor porte, no interior do Estado, ou mesmo no centro de Porto Alegre, a paisagem relega um modesto quinhão a barbeiros, sapateiros, alfaiates, parteiras, engraxates e outros trabalhadores munidos de ferramentas igualmente raras: navalha, dedal, fita métrica, esquadro; e o principal: uma dose cavalar de paixão pelo labor há tanto aprendido.

O alfaiate José Nunes carrega consigo há quase 40 anos essa marca. Natural de Araranguá, Santa Catarina, na adolescência foi iniciado no manejo das vestes. A família pegara a estrada rumo ao sul em busca de melhores ares, e alojara-se numa área rural, próxima a Guaíba - cidade a 30 quilômetros da capital gaúcha. Como o irmão mais velho, Guilherme, começara a trabalhar de alfaiate na nova terra, Nunes herdou dele a prática.

- É uma profissão passada de pai pra filho. Como eram os dentistas antigamente. Os pais ensinavam aos filhos. Como eu tive um irmão mais velho alfaiate, e ele precisava de um auxiliar, me trouxe do interior para aprender – relembra o senhor de cabelos brancos e pequenos vincos que ladeiam os olhos escondidos pelos óculos.

Mirando a rua e sempre desviando o olhar do interlocutor, Nunes rememora o primeiro emprego numa alfaiataria e lavanderia, a Cisne Branco. Sob a as ordens do Seu Vasco, o dono, pregou os primeiros botões e consertou as primeiras peças de roupa. Inicialmente, apenas calças. Com alguma saudade, fala dos enganos cometidos, condição imposta pelo tempo para aprender a função. “Em qualquer profissão a prática faz o conhecimento. É como um motorista que das primeiras vezes sai barbereando. Hoje, chega um cliente aqui e já sei mais ou menos a roupa que cabe naquele corpo”, assegura. E complementa, segurando o riso: “Errei, barbaridade. Na época em que eu comecei era bem diferente. A calça tinha que ficar bem justa, junto da perna. Certinha no corpo”.

De vocabulário híbrido – repleto de expressões tradicionais da terra de Bento Gonçalves, mas com um resquício visível de sotaque catarinense - ele calcula que já tenha atendido mais de 13 mil pessoas na Alfaiataria Nunes - desde 1984, quando passou a trabalhar com o conjunto completo: paletó e calça. O número não diz respeito somente a vendas. Estão contabilizados também aluguéis de ternos e adereços individuais, como gravatas, sapatos e cintos.

A menos de um quilômetro dali, um senhor de 60 anos brande a navalha pacificamente todos dias para apanhar o ganha-pão. Lorival Paz há 38 anos atua como barbeiro. Desempregado quando chegava à idade adulta, procurou guarida profissional em um curso oferecido pelo Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), em Porto Alegre. Foi lá que o seu instrutor sugeriu o nome que até hoje ilustra a placa que identifica e denomina a sala de trabalho: Salão Fígaro. Inspirado na ópera O Barbeiro de Sevilha, que celebrizou o colega de função reconhecido mundialmente.

Na sala de tamanho reduzido, cerca de 12 metros quadrados, Lori – apelido cunhado pelos mais chegados – construiu uma extensão de sua casa. Além da cadeira tradicional de barbeiro, há uma geladeira e dois confortáveis sofás. Espalhados pelas paredes, quadros com as grandes equipes da história do Internacional, time do coração. Esse ambiente transforma o salão num catalisador de amigos, segundo conta: “Muitas vezes os clientes me procuram apenas para conversar, pedir conselhos”.

Do local onde passou um terço das últimas quatro décadas, ele conseguiu prover o sustento da família e adquirir o patrimônio do qual tanto se orgulha. Casa própria, automóvel e a faculdade de Direito da filha Loriane. Tudo conquistado com a média de 250 clientes mensais, conforme contabilidade sua. E o segredo para a longevidade profissional é tão simples quanto umedecer um rosto com espuma de barbear:

- Respeitar o cliente. Entender o gosto dele. Muitas vezes não é aquilo como a gente quer. Têm clientes que tu sabes que está fazendo um serviço que não é o melhor, mas é a exigência dele – ensina. E completa, comentando o caso do dono de um ferro-velho de sua cidade, já falecido. Seu Ariovaldo fazia questão de aparar o cabelo como se fosse nos moldes de um penico, como um índio. O que lhe valia o pejorativo apelido de Juruna. Ele não ligava nem um pouco. E Lori sempre assentiu ao desejo do cliente. - Se tu quiser sugerir um serviço a teu gosto, tu podes até perder o cliente – adverte.

Guilherme

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Catalão de Choque
















Mais uma vez, o filho da Miguelina. As recordações que tenho dele são dispensáveis. Lembro de estar no Beira-rio, com o seu Ézio, quando aquele negrinho, franzino, num lance começado no meio de campo, parte direto para o gol...

-Quebraaa... quebra esse filha da p......... – gritava, imaginando o pior.

Ele foi lá e estufou as redes. Não lembro o placar, nem o que valia aquele jogo. Só sei que na época, o tricolor gaúcho era o Ronaldinho e mais dez – para a ira do Zinho – diga-se de passagem. Era um time mediano apenas.

Hoje a situação é diferente. Ronaldinho é líder da equipe de novo. Mas não daquele Grêmio capenga, mas sim de um Barcelona forte, cheio de craques de causar temor em muitos colorados. Um dos mais apavorados, o Leandro.

Na partida contra o América, do México, realizada na manhã de hoje, o time catalão aplicou 4 a 0 sem maiores dificuldades, e chega a final de domingo como franco favorito ao título mundial.

Penso que para nós colorados, isso é bom. Jogar como favorito a semi-final, foi bem desgastante para o Inter.

É hora de pensar grande. Enfrentar de igual para igual. Sei das diferenças técnicas e de qualidade das equipes – seria infantil da minha parte dizer o contrário – mas vamos pra cima deles. Buscar a vitória sempre. Vamos derrubar o “catalão de choque”. Vamô, vamô, Inter...


Fabinho

Hino Colorado

Devido a importancia do momento, tomo a liberdade de usar este espaço no blog para tratar inumeras vezes sobre o mesmo assunto. No vídeo abaixo, os musicos gauchos apresentam o Hino do Inter em versão japonesa...





Amanha colocarei a minha história campeã da América...

Fabinho

quarta-feira, dezembro 13, 2006

O Japão ta balançando...

Hoje, me emocionei ao assistir a vitória do colorado frente ao campeão africano, garantindo vaga na Final do Mundial Interclubes. Passava dos 35 do segundo tempo, e a pequena torcida colorada fazia a festa aos gritos de vamô, vamô, Inter...

Uma publicidade exibida nos ultimos dias, já tinha feito essa "previsão"... É o Terremoto Colorado...

Fabinho

terça-feira, dezembro 12, 2006

24 Horas

As nuvens esbranquiçadas pareciam delinear sincronizadas, ondulando de forma semelhante aos negros cabelos do Fernandão. Atravessava a rua com o olhar perdido, cansado, quando vejo uma placa de "pare" e, rapidamente lembro da cara gozada do Perdigão. Sabia que precisava de distração.

- Vai passar, nessa avenida um samba popular - cantava, sozinho, a passadas largas, tentando enganar meu inconsciente.

Antes mesmo da segunda estrofe, já ensaiava cantos ritmados de "vamo, vamo, inter", causando certo espanto nos transeuntes.

Insônia, falta de apetite, baixo rendimento no trabalho, podem ser consideradas algumas das reações sofridas em meu organismo. Tenho Medo. Faltando menos de 24 horas para a estréia do Inter no Mundial, me sinto corroído. Uma angustia, uma ansiedade que me faz mal,

- Inter, Inter queridô, Pra cima deles, Popular está contigo.

Nos últimos dias, só penso Inter, respiro Inter e sonho com o Inter.

Penso em pedir ajuda a Deus, mas considero que seria injusto. Minha fé não tao elevada, sempre me deixa a uma distancia bastante relevante.

Há 3 dias não consigo durmir antes das 2 da madrugada. Mesmo sem nenhum efeito alucinógeno, os segundos viram horas e os minutos dias intermináveis. Estamos prestes de presenciar um momento histórico e a massa vermelha tem de estar preparada.

Eu me abracei em algumas promessas:

·Ir até Farroupilha agradecer a Caravaggio; (Nivel 1)

·Levar Flores a Iemanjá; (Nivel 1)

·Ir a pé do Beira-rio ao Padre Reus, em São Leopoldo; (Nível 2)

·Parar de beber por um mês; (Nível 3)

Vai dar certo? Não sei. Só peço raça aos nossos guerreiros. São 97 anos de história. Milhões de vidas balançando, depois que a redonda começar a rolar nas quatro linhas. Tenho a certeza que nosso grito será ouvido na terra do Sol Nascente. Vamô, Vamô Inter.

E que Deus nos de muita saúde.

Fabinho

sábado, dezembro 09, 2006

Uma pessoa Especial...


7 de dezembro de 02. Lembro de estar no sítio do Bica. Enchendo a cara. Era a véspera do Natal Havaiano, no Itapuí. Com os meus melhores amigos, me preparava para ir a festinha do Rubro-negro. Estava indeciso. Depois do quinto martelo de vodka, fui convencido a ir para o clube. Mas para tirar um pouco o cheiro de álcool que exalava de meu corpo, resolvi tomar uma ducha. Péssima opção. Quando as primeiras gotas encontraram meus cabelos crespos, bastaram para que eu vomitasse todo o Box, e parte do banheiro. Calmamente, avisei os outros, escovei os dentes, escolhi uma camisa azul emprestada (foto) – que depois acabei comprando - e saímos.
Chegamos no final do show principal.

- Valeu Guaíba!!! Até a próxima... – dizia o negrão do Papas, acenando alegremente para a platéia.

Minutos depois, lembro exatamente a cena. Eu e o Pedro, fortemente alcoolizados, galgávamos os degraus da entrada principal, quando ouço uma voz conhecida..

- Fábio!!! A Márcia está aqui!!!!!!! – alegremente, me chamava a Patrícia, sua amiga.

A partir daquele momento, o trago parecia não existir... Um friozinho na barriga subindo, nervosismo em alta e, muito papo furado... Não sabia o que falar. Mas estava feliz, curtindo o momento. E foi assim pelo resto da noite. Nem um beijinho. Ao menos, um cineminha marcado para terça-feira, seguinte, 10 de dezembro.
As ultimas fileiras do cinema do Praia de Belas, esperando o início do filme Harry Potter, foi o palco para o primeiro beijo. E o começo de uma linda história de amor. Mal sabia eu, que estava conhecendo o amor da minha vida.

Com o tempo, fomos nos conhecendo, estudando junto, indo a praia... quantas histórias boas para lembrar. Encontrei uma pessoa linda, interessante, meiga, sincera, para compartilhar todos os momentos da minha vida. Momentos de alegria, de tristeza, de brigas, de conquistas e perdas. Uma pessoa que aprendi a amar a cada dia mais, e que sabe me fazer mais feliz. Sempre – mesmo sendo chata.

Hoje, quando estiver lendo, já deve ser 10 de dezembro de 2006. E onde estamos? Novamente no Natal Havaiano, no Itapuí. E eu? Desta vez, trabalhando. Mas com a mesma camisa azul da sorte. A camisa que me fez conhecer a mulher da minha vida. Quero dizer que estes quatro anos que passamos juntos foi muito importante para o meu crescimento intelectual, graças a tua bagagem cultural invejável.. Hoje me considero outra pessoa.

Lamento por estar trabalhando. Com certeza, não é uma comemoração digna para nós. Ela apenas será adiada em alguns dias. E, devido a problemas no meu computador – perdi todos os arquivos – o breve relato aqui, também não está a altura. Entretanto, faço uso deste espaço em crescimento – mais de 2.000 acessos – para dizer que quero passar não apenas 4, mas no mínimo, uns 40 anos ao teu lado. Com netos, todos colorados! É claro.

Te amo mais que tudo.

Fabinho